Évora, 25 de Abril de
2014
Falar do 25 de Abril de 1974, 40 anos depois.
A Revolução do
25 de Abril de 1974 foi muito importante para mim, tal como para os demais
portugueses porque, obrigou Marcelo Caetano a pedir a demissão,
consequentemente acabou com a ditadura e instituiu a democracia em Portugal.
Levou às
primeiras eleições livres em 25 de Abril de 1975 para a Assembleia Constituinte,
que elaborou a nova Constituição da República Portuguesa, que passou a garantir
os direitos fundamentais para a toda a população, realço alguns dos que para
mim são mais importantes, tais como:
-Liberdade, igualdade,
educação, saúde, trabalho, paz, habitação...
Acabou com a
guerra colonial, que mobilizava os nossos jovens e os obrigava a fazerem uma
guerra que não era a sua, que foi uma das principais causas para os militares
desencadearem a revolução, e o que deu lugar à declaração da independência desses
povos, tornando-se países independentes. Não concordo como foi feita a
descolonização, não esqueço a guerra civil em Angola, os graves problemas da
Guiné e de Moçambique, os muitos portugueses que tiveram que fugir das colónias
para Portugal a grande avalanche dessas pessoas, “retornados” que vieram sem
nada, muitos com crianças ao colo, que chegaram a um país deprimido e sem
condições para os acolherem dignamente.
Estamos este
ano a comemorar os 40 anos da Revolução do dia 25 de Abril de 1974.
Há 40 anos
atrás eu era uma jovem trabalhadora de 17 anos de idade, cheia de planos e de
sonhos.
Durante todo
esse dia de trabalho, ouvimos no pequeno rádio a pilhas do encarregado, os
comunicados do Movimento das Forças Armadas à população, para se manterem
serenos e em casa, mas nós nem tínhamos a noção do que se estava a passar, só à
noite quando chegamos a casa e vimos na televisão, é que começamos a tomar
consciência do que se estava a passar.
Depois foi a
euforia do povo libertado nas ruas, as manifestações, os comícios, as lutas a
Reforma Agrária, onde eu tive uma participação ativa, fazendo parte de uma das
primeiras comissões de trabalhadores, eleita por voto dos colegas de braço no
ar. A minha luta pessoal contra qualquer tipo de discriminação das mulheres,
seja na família, no trabalho e na sociedade, começou nessa altura e ainda se
mantem atualmente.
Hoje caminho a
passos largos para os 60 anos (tenho 57), casei a uma semana de completar 19
anos, tenho um casal de filhos, e enviuvei aos 27 anos. Criei os meus filhos
com muitas dificuldades, sou uma pessoa de sorriso fácil, mas nunca perdi a
vontade de lutar, por um país onde todos possamos ter uma vida melhor. Tenho
duas netas e um neto, que me dão muitas alegrias e me enchem de orgulho, tal
como os seus pais.
O que eu tenho
para dizer sobre estes 40 anos do 25 de Abril, é que avançámos muito a nível
civilizacional e em qualidade de vida.
O acesso à
educação foi democratizado, deixou de ser um privilégio de alguns, filhos das
famílias das classes mais abastadas, para passar a ser um direito, constitucionalmente
garantido, para todos os portugueses. Até para os adultos como eu, que não teve
possibilidade de estudar enquanto criança e jovem, completei o 12.º ano há
poucos anos. Eu incentivei os meus filhos estudaram, ele é licenciado em
Engenharia Agrícola, ela tem o 12.º ano, e está a completar o Curso de Técnica
Profissional de Informática de nível IV.
A saúde passou
a ser um direito garantido na nossa constituição. Foi criado o serviço nacional
de saúde, para universalizar o acesso à saúde de toda a população portuguesa,
com isso aumentou a longevidade e diminuiu a mortalidade, principalmente a
infantil, para níveis nunca até então atingidos.
Eu penso que
passados 40 anos do 25 de Abril, avançámos muito em qualidade de vida, mas
atualmente o que vejo é que estamos a retroceder civilizacionalmente.
Há muitas
famílias que incluem crianças e jovens, a viverem na maior das pobrezas, porque
não teem recursos para viverem com um mínimo de qualidade de vida. O acesso à
saúde e educação estão cada vez mais difíceis, os impostos atingiram níveis
inaceitáveis, retirando recursos às famílias e à economia do país.
Na minha
opinião, a democracia está cada dia que passa, a ser atacada por políticas da direita
radical e da troika, e há famílias que investiram tudo na compra da sua
habitação, mas com as altíssimas taxas de desemprego em Portugal, estão a
perder essas casas, sem recursos financeiros para as manterem.
Estamos a
perder todos os direitos adquiridos nos locais de trabalho, principalmente na
função pública, os reformados estão a ver as suas reformas diminuídas.
Há um ataque a
todos os direitos e valores porque os militares de Abril fizeram a revolução, o
medo começa a calar o povo, o que faz com que nos isolemos e baixemos os
braços, em vez de sairmos para a rua a protestar contra as políticas de
direita, que nos estão a causar muitas dificuldades.
Eu penso que a
união faz a força, e que só um povo unido pode vencer esta crise, que vai ficar
para a história, como uma das maiores porque passámos nesta democracia, por
isso temos unir forças para a ultrapassar, lutando pelos valores de Abril, para
os manter vivos dentro de nós, e passa-los aos nossos filhos e netos.
Viva os 40 anos
do 25 de Abril!
Abril de novo
com a força do povo!
Conceição
Orvalho