A Revolução do dia 25 de Abril de
1974 foi um dos acontecimentos históricos mais importantes para mim, tal como para
os demais portugueses, porque forçou Marcelo Caetano a demitir-se e a exilar-se,
consequentemente acabou com a mais velha ditadura da Europa, com a Pide,
libertou os presos políticos, instituiu a democracia e a liberdade em Portugal.
Levou às primeiras eleições livres em
25 de Abril de 1975, foram as primeiras em que todas as mulheres puderam exercer
o seu direito de voto, porque dantes só os homens podiam votar, salvo raras
exceções, para a Assembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição da
República Portuguesa, que passou a garantir os direitos fundamentais para a toda
a população, realço alguns que para mim são os mais importantes, tais como:
-Liberdade, igualdade, educação,
saúde, habitação, trabalho, paz...
Acabou com a guerra colonial, que
mobilizava os nossos jovens e os obrigava a fazerem uma guerra que não era a
sua, e que foi uma das principais causas para os militares desencadearem a
revolução, que deu lugar à declaração de independência desses povos,
tornando-se países independentes. Não concordo como foi feita essa
descolonização, não esqueço a guerra civil em Angola, os graves problemas da
Guiné e de Moçambique, os muitos portugueses que tiveram que fugir das colónias
para Portugal, a grande avalanche dessas pessoas, “retornados” que vieram sem
nada, muitos com crianças ao colo, que chegaram a um país deprimido e sem
condições para os acolherem dignamente.
Estamos este ano a comemorar os 40
anos da Revolução do dia 25 de Abril de 1974.
Há 40 anos atrás eu era uma jovem
trabalhadora, de 17 anos de idade, cheia de alegria, com muitos planos e sonhos
para viver.
Durante todo o dia 25 de Abril de
1974, eu era trabalhadora rural, o meu patrão era um dos maiores latifundiários
do Alentejo. Nesse dia fui normalmente para o trabalho, ouvimos no pequeno
rádio a pilhas do encarregado do pessoal, os comunicados do Movimento das
Forças Armadas (MFA) à população, para se manterem serenos e em casa, mas nós
nem tínhamos a noção do que se estava a passar, só à noite quando chegamos a
casa e vimos na televisão, é que começamos a tomar consciência do que se estava
a passar.
Depois foi a euforia do povo
libertado nas ruas, as manifestações, os comícios, as lutas a Reforma Agrária,
onde eu tive uma participação ativa, fazendo parte de uma das primeiras
comissões mistas de trabalhadores, eleita por voto dos colegas de braço no ar.
Assisti ao enorme desenvolvimento do Alentejo rural, as aldeias desenvolveram-se
imenso, havia trabalho para toda a população das aldeias, eram cultivados todos
os terrenos férteis, havia enormes rebanhos de gado nas pastagens, havia queijos,
leite e muito trigo, por isso o Alentejo era chamado celeiro de Portugal.
A minha luta pessoal contra qualquer
tipo de discriminação das mulheres, seja na família, no trabalho e na
sociedade, começou nessa altura e ainda se mantem atualmente.
Hoje caminho a passos largos para os
60 anos (tenho 57), casei a uma semana de completar 19 anos, tenho um casal de
filhos, que criei com muitas dificuldades, porque enviuvei aos 27 anos.
Sou uma pessoa positiva, de sorriso
fácil e nunca perdi a vontade de lutar por um país, onde todos possamos ter uma
vida melhor. Tenho duas netas e um neto, que me dão muitas alegrias e me enchem
de orgulho, tal como os seus pais.
O que eu tenho para dizer sobre estes
40 anos do 25 de Abril, é que avançámos muito a nível civilizacional e em
qualidade de vida.
O acesso à educação foi
democratizado, deixou de ser um privilégio de alguns, filhos das famílias das
classes mais abastadas, para passar a ser um direito, constitucionalmente
garantido, para todos os portugueses. Até para os adultos como eu, que não teve
possibilidade de estudar enquanto criança e jovem, completei o 12.º ano há
poucos anos. Eu sempre incentivei os meus filhos a estudaram, ele é licenciado
em Engenharia Agrícola, ela tem o 12.º ano, e está a completar o Curso de Técnico
Profissional de Informática de Nível IV.
A saúde passou a ser um direito
garantido na nossa constituição. Foi criado o serviço nacional de saúde, (SNS) para
universalizar o acesso à saúde de toda a população portuguesa, com isso
aumentou a longevidade e diminuiu a mortalidade, principalmente a infantil,
para níveis nunca até então atingidos.
Eu penso que passados 40 anos do 25
de Abril, avançámos muito em qualidade de vida, mas atualmente o que vejo é que
estamos a retroceder civilizacionalmente.
Há muitas famílias que incluem
crianças e jovens, a viverem na maior das pobrezas, porque não teem recursos
para viverem com um mínimo de qualidade de vida. O acesso à saúde e educação
estão cada vez mais difíceis, os impostos atingiram níveis inaceitáveis,
retirando recursos às famílias e à economia do país.
Na minha opinião, a democracia está
cada dia que passa, a ser atacada por políticas da direita radical e da Troika,
e há famílias que investiram tudo na compra da sua habitação, mas com as
altíssimas taxas de desemprego em Portugal, estão a perder essas casas, sem
recursos financeiros para as manterem.
Estamos a perder todos os direitos
adquiridos nos locais de trabalho, principalmente na função pública, os
reformados estão a ver as suas reformas diminuídas.
Há um ataque a todos os direitos e
valores porque os militares de Abril fizeram a revolução, o medo começa a calar
o povo, o que faz com que nos isolemos e baixemos os braços, em vez de sairmos
para a rua a protestar contra as políticas de direita, que nos estão a causar
muitas dificuldades.
Eu penso que a união faz a força, e
que só um povo unido pode vencer esta crise, que vai ficar para a história,
como uma das maiores porque passámos nesta democracia, por isso temos que unir
as nossas forças para a ultrapassar, lutando pelos valores de Abril, para os
manter vivos dentro de nós, e passa-los aos nossos filhos e netos.
-Viva o Dia 25 de Abril de 1974!
- Vivam os 40 anos do 25 de Abril!
- Abril de novo com a força do povo!