A novela inacabada,
Que o meu sonho completou,
Não era de rei ou fada
Mas era de quem não sou.
Para além do que dizia
Dizia eu quem não era…
A Primavera floria
Sem que houvesses Primavera.
Lenda do sonho que vivo,
Perdida por a salvar…Mas quem me arrancou o livro
Que eu quis ter sem acabar?
De: Fernando Pessoa
Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,A dor que já me não dói,
A antiga e errónea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Do livro: “Poesias Inéditas”
De: Fernando Pessoa
Que suave é o ar! Como parece
Que tudo é bom na vida que há!
Assim meu coração pudesse
Sentir essa certeza já.
Mas não; ou seja a selva escura
Ou seja um Dante mais diverso,
A alma é literatura
E tudo acaba em nada e verso.
Do livro: “Poesias Inéditas”
De: Fernando Pessoa
Vi passar, num mistério concedido,
Um cavaleiro negro e luminoso
Que, sob um grande palio rumoroso,
Seguia lento com o seu sentido.
Quatro figuras que lembrando olvido
Erguiam alto as varas, e um lustroso
Torpor de luz dormia tenebroso
Nas dobras desse pano estremecido.
Na fronte do vencido ou vencedor
Uma coroa pálida de espinhos
Lhe dava um ar de ser rei e senhor.
Do livro: “Poesias Inéditas”
De: Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário