segunda-feira, 13 de abril de 2020

FLOR DE NATAL Vol. II



Coletânea "FLOR DE NATAL Vol. II"

Venho de longe, para lá de Trás-os-Montes...
- Venho de longe, lá da terra, onde a chuva batia de mansinho no vidro da janela, e onde às vezes, de manhã quando acordava, me deparava com uma paisagem deslumbrante, toda coberta por um extenso e lindo manto branco de neve!...
Nos beirais e nos ramos das árvores, existiam pendentes de gelo tão brilhantes, que pareciam cristais, que lá foram colocados de propósito, para embelezarem as nossas ruas e os caminhos!
Depois, quando vinha o sol, os meus irmãos, eu e outros miúdos, saiamos para a rua, para brincarmos, fazendo bonecos de neve, ou batalhas, atirando pequenas bolas de neve uns aos outros, até cairmos em cima da camada branca e fofa, que cobria as nossas ruas, também cobria com o seu manto branco, os telhados e até as árvores que rodeavam a nossa linda aldeia cujo nome Cidadelha, remonta a tempos muito antigos.
 Com o passar dos dias frios de inverno, a neve ia derretendo, transformando-se em gelo, que aproveitávamos para escorregar e continuava a nossa brincadeira, até que derretia, desfazendo-se em pequenas gotas de água, até desaparecer por completo, tal como a neve. Havia locais mais sombrios, onde só a chuva derretia neve, surgindo de novo a verdejante e linda paisagem, daquela pacata aldeia transmontana, cujos habitantes muito se orgulham das suas festas, romarias e tradições ancestrais, que o seu povo continua ainda a manter vivas a cada ano que passa, algumas são próprias desta pequena aldeia, que fica apenas a dois quilómetros de Vila Pouca de Aguiar, sede do Concelho.
O Natal era uma época festiva, de que as crianças gostavam e ainda gostam muito, embora em nossa casa houvessem poucos recursos, pois eramos uma família pobre, formada pelos meus pais, seis filhas e dois filhos.
Havia tradições que se repetiam anualmente, algumas delas vou tentar descrevê-las.
A minha mãe fazia sempre a ceia de Natal tradicional, da qual faziam parte as batatas, bacalhau, couves, cebolas e ovos cozidos e regadas por um bom azeite.
A minha mãe fazia sempre aletria doce polvilhada com canela, e fazia os fritos tradicionais da nossa terra que eram as rabanadas, bolinhos de bacalhau, bolinhos de abóbora e de abóbora gila, que, tal como os restantes legumes e batatas, eramos cultivado por nós, na nossa terra, onde fazíamos agricultura de subsistência e onde começámos todos a trabalhar ainda crianças.
Na véspera de Natal, colocávamos os sapatos junto à lareira, onde os nossos pais, durante a noite, depois de adormecermos, iam colocar um saquinho com confeitos doces e coloridos, figos secos, alguns biscoitos e um pequeno lenço de assoar, com desenhos infantis pintados no tecido, ficávamos todos muito felizes com as prendinhas do Menino Jesus, era isso os nossos pais nos ensinavam, e em que nós acreditávamos.
Ao serão, brincávamos com uma pionita de quatro faces, cada face com uma letra, R de raspa, T de tira, P de põe e D de deixa, onde íamos ganhando ou perdendo os nossos doces, que no final restituíamos aos que perdiam.
O nosso pai era um excelente contador de histórias antigas, e então sentado à lareira, que de inverno estava sempre acesa, e nós, sentados uns ao seu colo, ou agarrados ao seu pescoço e outros à sua volta, ouvíamos com toda a atenção, as histórias ele contava.
 Uma era a história do Dom Caio, eu caio, eu caio; a do João Grilo, pobre grilo onde tu te meteste; a da Raposa e da Cegonha, que se enganaram mutuamente com as papas no prato raso, ou dentro do frasco; a do Touro Azul, um touro mágico amigo da princesa, a quem chamavam, pobre Maria Suja, que era a minha preferida e muitas outras que ele nos contava e que nós adorávamos ouvir.
Quando crescemos passámos a ir ao baile da aldeia, mas infelizmente, fomos perdendo algumas dessas tradições. Há outras, que em nossa casa, não dispensamos, a ceia de Natal mantem-se, só acrescida de polvo cozido, porque o meu filho não gosta de bacalhau, e de um pudim de leite condensado, receita da minha filha, e que todos adoramos.
Tenho muito boas lembranças dos Natais da minha infância, ainda hoje, é a festa anual de que mais gosto, por ser a festa da união da família.
Para festejar o Ano Novo, gostamos de bater tampas de panelas, para espantar o Ano Velho, para o jantar, costumamos fazer petiscos, camarão, sapateira e outros mariscos, saladas de polvo e ovas de bacalhau, comemos vários doces e frutos secos, acompanhados por um bom vinho e champanhe, à meia noite, comemos as doze passas, e pedimos os desejos, para o ano que está a começar e entre abraços e beijinhos, desejamos a todos os familiares e amigos, um Feliz Ano Novo.

Maria da Conceição Saraiva Roxo Orvalho

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