sábado, 4 de outubro de 2014

25 de Abril de 2014


Évora, 25 de Abril de 2014

Falar do dia 25 de Abril de 1974

 40 Anos depois


A Revolução do dia 25 de Abril de 1974 foi um dos acontecimentos históricos mais importantes para mim, tal como para os demais portugueses, porque forçou Marcelo Caetano a demitir-se e a exilar-se, consequentemente acabou com a mais velha ditadura da Europa, com a Pide, libertou os presos políticos, instituiu a democracia e a liberdade em Portugal.
Levou às primeiras eleições livres em 25 de Abril de 1975, foram as primeiras em que todas as mulheres puderam exercer o seu direito de voto, porque dantes só os homens podiam votar, salvo raras exceções, para a Assembleia Constituinte, que elaborou a nova Constituição da República Portuguesa, que passou a garantir os direitos fundamentais para a toda a população, realço alguns que para mim são os mais importantes, tais como:
-Liberdade, igualdade, educação, saúde, habitação, trabalho, paz...
Acabou com a guerra colonial, que mobilizava os nossos jovens e os obrigava a fazerem uma guerra que não era a sua, e que foi uma das principais causas para os militares desencadearem a revolução, que deu lugar à declaração de independência desses povos, tornando-se países independentes. Não concordo como foi feita essa descolonização, não esqueço a guerra civil em Angola, os graves problemas da Guiné e de Moçambique, os muitos portugueses que tiveram que fugir das colónias para Portugal, a grande avalanche dessas pessoas, “retornados” que vieram sem nada, muitos com crianças ao colo, que chegaram a um país deprimido e sem condições para os acolherem dignamente.
Estamos este ano a comemorar os 40 anos da Revolução do dia 25 de Abril de 1974.
Há 40 anos atrás eu era uma jovem trabalhadora, de 17 anos de idade, cheia de alegria, com muitos planos e sonhos para viver.
Durante todo o dia 25 de Abril de 1974, eu era trabalhadora rural, o meu patrão era um dos maiores latifundiários do Alentejo. Nesse dia fui normalmente para o trabalho, ouvimos no pequeno rádio a pilhas do encarregado do pessoal, os comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA) à população, para se manterem serenos e em casa, mas nós nem tínhamos a noção do que se estava a passar, só à noite quando chegamos a casa e vimos na televisão, é que começamos a tomar consciência do que se estava a passar.
Depois foi a euforia do povo libertado nas ruas, as manifestações, os comícios, as lutas a Reforma Agrária, onde eu tive uma participação ativa, fazendo parte de uma das primeiras comissões mistas de trabalhadores, eleita por voto dos colegas de braço no ar. Assisti ao enorme desenvolvimento do Alentejo rural, as aldeias desenvolveram-se imenso, havia trabalho para toda a população das aldeias, eram cultivados todos os terrenos férteis, havia enormes rebanhos de gado nas pastagens, havia queijos, leite e muito trigo, por isso o Alentejo era chamado celeiro de Portugal.
A minha luta pessoal contra qualquer tipo de discriminação das mulheres, seja na família, no trabalho e na sociedade, começou nessa altura e ainda se mantem atualmente.
Hoje caminho a passos largos para os 60 anos (tenho 57), casei a uma semana de completar 19 anos, tenho um casal de filhos, que criei com muitas dificuldades, porque enviuvei aos 27 anos.
Sou uma pessoa positiva, de sorriso fácil e nunca perdi a vontade de lutar por um país, onde todos possamos ter uma vida melhor. Tenho duas netas e um neto, que me dão muitas alegrias e me enchem de orgulho, tal como os seus pais.
O que eu tenho para dizer sobre estes 40 anos do 25 de Abril, é que avançámos muito a nível civilizacional e em qualidade de vida.
O acesso à educação foi democratizado, deixou de ser um privilégio de alguns, filhos das famílias das classes mais abastadas, para passar a ser um direito, constitucionalmente garantido, para todos os portugueses. Até para os adultos como eu, que não teve possibilidade de estudar enquanto criança e jovem, completei o 12.º ano há poucos anos. Eu sempre incentivei os meus filhos a estudaram, ele é licenciado em Engenharia Agrícola, ela tem o 12.º ano, e está a completar o Curso de Técnico Profissional de Informática de Nível IV.
A saúde passou a ser um direito garantido na nossa constituição. Foi criado o serviço nacional de saúde, (SNS) para universalizar o acesso à saúde de toda a população portuguesa, com isso aumentou a longevidade e diminuiu a mortalidade, principalmente a infantil, para níveis nunca até então atingidos.
Eu penso que passados 40 anos do 25 de Abril, avançámos muito em qualidade de vida, mas atualmente o que vejo é que estamos a retroceder civilizacionalmente.
Há muitas famílias que incluem crianças e jovens, a viverem na maior das pobrezas, porque não teem recursos para viverem com um mínimo de qualidade de vida. O acesso à saúde e educação estão cada vez mais difíceis, os impostos atingiram níveis inaceitáveis, retirando recursos às famílias e à economia do país.
Na minha opinião, a democracia está cada dia que passa, a ser atacada por políticas da direita radical e da Troika, e há famílias que investiram tudo na compra da sua habitação, mas com as altíssimas taxas de desemprego em Portugal, estão a perder essas casas, sem recursos financeiros para as manterem.
Estamos a perder todos os direitos adquiridos nos locais de trabalho, principalmente na função pública, os reformados estão a ver as suas reformas diminuídas.
Há um ataque a todos os direitos e valores porque os militares de Abril fizeram a revolução, o medo começa a calar o povo, o que faz com que nos isolemos e baixemos os braços, em vez de sairmos para a rua a protestar contra as políticas de direita, que nos estão a causar muitas dificuldades.
Eu penso que a união faz a força, e que só um povo unido pode vencer esta crise, que vai ficar para a história, como uma das maiores porque passámos nesta democracia, por isso temos que unir as nossas forças para a ultrapassar, lutando pelos valores de Abril, para os manter vivos dentro de nós, e passa-los aos nossos filhos e netos.
-Viva o Dia 25 de Abril de 1974!
- Vivam os 40 anos do 25 de Abril!
- Abril de novo com a força do povo!
                
Évora, 25 de Abril de 2014       
 Conceição Orvalho

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