quinta-feira, 20 de julho de 2017

O Touro Azul/ Contos ao Serão

“Touro Azul”/ Contos ao Serão





É um conto infantil, sobre uma Menina e um Touro que percorrem o mundo em busca da felicidade.

“O TOURO AZUL "

Era uma vez um rei e uma rainha, que tinham cada qual uma filha. Como eram ambos viúvos, resolveram casar-se um com o outro, e assim fizeram.
A filha do rei chamava-se Coralina, e era tão formosa e boa, quanto a filha da rainha era feia e má.
Entregava-se muito o rei ao exercício da caça, e enquanto por lá andava, era a filha que o representava, sendo por isso o ídolo dos grandes do reino.
A madrasta ardia em ciúmes por esta preferência, e jurou em sua alma vingar-se da filha do marido. Nesse intento, uma vez em que o marido teve que se ausentar, a madrasta ordenou à enteada que fosse guardar um touro azul que o pai comprara, e era muito bravo.
A boa menina, toda transida de medo, cumpriu as ordens da madrasta, recebendo desta uma pobre refeição para todo o dia. Mas, ao contrário do que esperava, o touro não só não era bravo, como a olhava com um olhar muito meigo. No dia seguinte, voltou a menina para o prado, e quando se dirigiu para o touro, este ajoelhou diante dela e disse:
- Tira um guardanapo que tenho dentro da orelha esquerda e estende-o no chão, que logo te aparecerá toda a comida e bebida que quiseres.
A princesa fez o que o touro lhe ordenou, e logo mãos invisíveis lhe serviam um delicioso banquete, com os melhores manjares e licores, tudo em pratos e copos de ouro.
No fim, Coralina tornou a meter o guardanapo na orelha do touro, que em seguida se retirou, depois de ajoelhar novamente.
E assim se passaram alguns dias. Pasmada a rainha de que o touro não atentasse contra a enteada, ordenou a um pajem que espreitasse o touro e a princesa. Escondido atrás de uma moita de azevinho, o pajem em breve se certificou de toda a verdade, e tudo comunicou à rainha.
Entretanto voltou o rei, e a rainha meteu-se na cama e fingiu-se doente, declarando que só lhe apetecia um bife de carne de um touro azul.
Em todo aquele reino só havia um touro azul, que era o protector e amigo da princesa.
Coralina ficou muito aflita quando ouviu aquela notícia e ao dar a meia-noite saiu do palácio sem ninguém a ver, e foi prevenir o touro azul. - Já sei o que vens aqui fazer - disse o touro azul.
- A rainha quer que me matem, foge comigo, porque ela também te quer matar a ti.
A princesa saltou para as costas do touro azul, e fugiram os dois por montes e vales. Depois de terem andado toda a noite e todo o dia seguinte, disse o touro:
- Agora vamos entrar num bosque em que as árvores são todas de cobre, guardado ciosamente por um feiticeiro de três cabeças. Tem cuidado para não deixares cair nenhuma folha, porque se fizeres cair alguma folha, estamos perdidos!
E seguiram com a maior precaução. Coralina baixava a cabeça, inclinando-se e desviando os ramos com as mãos. Mas o bosque tornou-se tão cerrado, que a princesa arrancou sem querer uma folha, e ficou com ela na mão.
- Agora tenho que lutar com o feiticeiro - disse o touro azul. - Mas, já que arrancaste a folha, guarda-a no teu avental.
A princesa assim o fez, e quase ao mesmo tempo apareceu o feiticeiro das três cabeças, e começou a lutar com o touro. A luta durou um dia inteiro, e por fim o touro azul matou o feiticeiro das três cabeças, mas ficou também muito ferido.
- Tira um frasquinho que o feiticeiro tem pendurado à cintura e deita-me sobre as feridas o óleo que está lá dentro - disse o touro azul.
A menina assim fez, e o touro ficou completamente curado. Depois de caminharem alguns dias, chegaram a outro bosque onde as árvores eram todas de prata. E o touro azul fez a mesma recomendação à princesa:
- Não toques em nada. Este bosque é guardado por um feiticeiro de seis cabeças, tão feroz como o primeiro.
- Fica descansado - prometeu a menina. Mas o bosque tornou-se logo tão cerrado, que a princesa, ao desviar um galho, arrancou uma folha.
- Guarda-a no teu avental - disse o touro. E no mesmo instante apareceu o feiticeiro das seis cabeças. Depois de uma luta que durou todo o dia, o touro acabou por matar o feiticeiro, mas ficou muito ferido, e foi curado com óleo de um frasquinho que o feiticeiro tinha pendurado à cintura.
Mais adiante encontraram outro bosque em que as árvores eram todas de ouro. O touro azul tornou a recomendar à princesa que não tocasse em nada, mas, por mais cuidado que tivesse, a princesa Coralina arrancou sem querer uma maçã de ouro.
- Guarda a maçã de ouro no teu avental - disse o touro, e no mesmo instante apareceu um feiticeiro de nove cabeças, que guardava aquele bosque. Novamente o touro azul teve que entrar numa luta, que durou todo o dia, e acabou por matar o feiticeiro, mas ficou também muito ferido.
- Deita-me nas feridas o óleo do frasco que o feiticeiro tem pendurado à cintura, e tira-lhe a faca do mato que ele tem na mão.
A menina assim fez, e o touro azul ficou logo curado.
Continuaram a viagem, a menina sempre montada no touro, até que chegaram a um descampado.
- O que vês acolá? - Perguntou o touro azul.
- Vejo uma casa muito pequenina - Respondeu a princesa Coralina.
- Não é uma casa, é um palácio - Explicou o touro azul.
- Parece-te pequeno, porque ainda está muito longe.
Continuaram a caminhar, até que chegaram perto de uma alameda que tinha uma entrada em abóbada, formada por grandes rochedos. E o touro disse então:
- Ali vive uma rainha com o filho. É para lá que tu vais. Agora farás o seguinte:
- Com a faca de mato que tiraste ao feiticeiro das nove cabeças, mata-me, arranca-me a pele e guarda nela as folhas de cobre e de prata e a maçã de ouro, e vai meter tudo debaixo daquela rocha.
Volta-te para a direita e verás um vestido feito de madeira que vestirás por cima do teu.
À esquerda está um cajado. Quando precisares de qualquer coisa, bate três vezes com o cajado na rocha, e aparece-te logo o que pedires. No palácio hão-de perguntar-te o nome. Diz-lho, mas não contes que és filha de um rei, nem que vieste com o touro azul.
Bem contra a sua vontade, Coralina matou o touro azul, tirou-lhe a pele, e fez tudo o que ele disse. Depois foi bater à porta do palácio e ofereceu-se para criada. Mandaram-na para a cozinha, e como a viram tão suja, puseram-lhe a alcunha de Maria-Suja.
Daí a dias o príncipe pediu um jarro com água, e mandaram a Coralina levar-lho ao quarto, mas como o vestido era de madeira, fez tanto barulho a bater pelas escadas acima, que o príncipe veio à porta do quarto e disse:
- Não tinham mais por quem mandar o jarro com água, senão pela Maria-Suja!... - E atirou com o jarro da água ao chão.
Nesse mesmo dia, que era domingo, havia uma festa e um baile, onde ia a filha da madrasta, para ir dançar com o Príncipe. Pediu Coralina que a levassem ao baile, mas as criadas diziam que a menina que não ia, porque estava muito sujinha e não tinha roupa para levar ao baile, por isso não a levaram.
Ela foi sozinha, primeiro ao lugar onde tinha enterrado a folha de cobre, a de prata e a maçã de ouro, embrulhadas na pele do touro azul. Pegou no cajado e bateu três vezes com ele na rocha, que se abriu imediatamente, apareceu-lhe um vestido muito lindo e um cavalo com umas lindas rédeas, e a menina foi para o baile.
E, quando lá entrou, o Príncipe ficou admirado com aquela menina e só dançou com ela, e a filha da madrasta ficou muito furiosa e a madrasta também ficou bastante furiosa.
E depois, passados mais dias, houve outra festa e a menina foi outra vez bater no rochedo, outro vestido ainda muito mais bonito, debruado em prata, e as rédeas do cavalo também em prata,a menina foi outra vez ao baile e o Príncipe só dançou com ela; a madrasta e a filha ficaram muito revoltadas. E, na última vez que foi a outro baile, a menina foi com a varinha e bateu no rochedo e apareceu-lhe um vestido muito mais bonito, debruado em ouro, e as rédeas do cavalo em ouro. E ouviu uma voz que lhe disse:
— Não deixes passar da meia-noite. Volta para casa antes da meia-noite.
Depois, a rapariga foi e o Príncipe só dançou com ela e não dançava com mais ninguém e as outras raparigas, cada vez elas ficavam mais furiosas. E já, era quase meia-noite. E a rapariga andou dançando com o Príncipe e ele perguntou-lhe donde é que ela era. E ela disse:
— Sou do sítio das toalhas, sou do sítio do jarro da água — Falando, falando — Sou do sítio das toalhas — Falando, falando — Sou do sítio dos pentes.
E andavam distraídos a falar e era quase meia-noite; a rapariguinha fugiu e deixou o sapato que o Príncipe apanhou e levou-o para casa. Depois, correu toda a cidade, a ver de quem o sapato era,e o sapato não servia a ninguém. E foi calçar na filha da madrasta, que dizia que era dela, mas tinha já o pé em sangue. E, depois, um passarinho poisou no parapeito da janela e disse:
— Tem sangue no pezinho. Tem sangue no pezinho.
Foram ver e estava o pé cheio de sangue, e então só faltava calçar na criada, na pobrezinha. E as outras diziam:
— Ah! Não vale a pena nela! Não vale a pena calçar nela.
E sempre foi experimentar o sapato,e assim que calçou o sapato, apareceu todo o vestuário com que ela apareceu no baile a dançar.
O Príncipe ficou muito feliz por encontrar a sua Princesa, casou logo com ela, e foram felizes para sempre...
Imagens retiradas de:

1 comentário:

  1. A minha Tia contava-me esta História e à minha irmã quando éramos equenas ! e estou neste preciso momento a escrever um livro para uma Cadeira e o Conteúdo vai ser esta História ;D uau Finalmente alguém que a conheçe também ! Ela é do Pereiro do Carvoeiro perto de mação ! Qlqr coisa também tenho Blog beijo * E Obrigado !

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