quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Delírios de Outono

Frase – No outono cai a folha, da árvore do meu quintal, do jardim da minha rua, cai a folha, não faz mal...

I
“Delírios de Outono”

É um delírio de outono
Pensar que ainda há futuro
Espero que venha o sono
Neste meu quarto escuro
Fecho os olhos e adormeço
E tenho um lindo sonho
Do qual não me esqueço
Estava num campo de flores
Sentada lendo o meu livro
Nas árvores cantavam os pássaros
E num banco uns senhores
Falavam do seu futuro
Até parecia que o tempo
Não tinha já passado
Que o outono da vida
Para trás não os tinha deixado
Havia muita esperança
Só viviam da lembrança
Da sua vida passada
Havia o pôr-do-sol
E também a alvorada
Caminhavam a passos largos
Para o frio do inverno
Naqueles dias amargos
Havia muitos enganos
O corpo pesa-lhes nas pernas
Enquanto a cabeça fervilha
De muitas ideias e sonhos
Ainda por concretizar
Isto é que é ter azar
Pois o tempo que passou
Nunca mais irá voltar...

II
“Delírios de Outono”
O outono desta vida
Não é o ponto de partida
Nem o ponto de chegada
Já não é uma alvorada
Mas indica o caminho
Que faço sempre sozinho
Nesta sociedade egoísta
Só há um ponto de vista
Que toda a gente partilha
Parece ser muito realista
Mas é uma armadilha
Que separa mãe e filha
Separa-a do filho também
Será que ainda há alguém
Que pense de modo diverso
Que não se ache o centro do universo
Mas que pense na comunidade
Nas pessoas de qualquer idade
Que tenham tempo para as crianças
Para os jovens e para os idosos
Que destes tenham compaixão
Pois todos têm coração
Todos riem e também choram
Às vezes nem sabem onde moram
Vivem das suas memórias
Deixem-nos contar as suas histórias
Ouçam-nos e aprendam com as suas lições
E guardem-nas para sempre, nos vossos corações!

III
“Delírios de Outono”
Naquele dia de outono
O céu estava cinzento
Fazia um pouco de vento
Eu estava com muito sono
Fechei os olhos e sonhei
Que tudo tinha mudado
As guerras tinham acabado
Em todo o mundo havia paz
Que toda a gente era capaz
De amar como irmão
Todo aquele que conhecia
Nem que fosse por um dia
Havia comida da mesa
E tudo o que existia
Por todos se repartia
E acabava a pobreza
Havia paz e amor
E tudo ao nosso redor
Brilhava com mais encanto
No nosso planeta terra
Tinha acabado a guerra
Nas árvores cantavam os pássaros
Corriam límpidas as águas
Nos nossos rios e mares
E em todos os lugares
Fosse aldeia ou cidade
Havia muita felicidade
Depois acordei do sono
Vi que era um delírio de outono...

IV
“Delírios de Outono”
Amei-te tão intensamente
Como só se ama uma vez
Contigo sonhei tão docemente
Para mim, já não era um talvez

Contigo dancei de rosto colado
E como eram lindas essas canções
Contigo passeei sempre lado a lado
Como batiam forte os nossos corações!

Contigo sonhava, mesmo acordada
Fechava os olhos e via-te a meu lado
A passear aos domingos, sempre de mão dada
Eras tudo para mim, esse era o meu fado

Mas, fui-me embora, para longe de ti
Não havia telefone e eu não te escrevi
Por orgulho, fingi que te esqueci
E de ti para sempre me perdi

Agora que estou no outono da vida
Sinto que a minha história teria sido diferente
Se aquela época não fosse perdida
Isso ficou para sempre na minha mente

Fecho os olhos e choro baixinho
Para mim não passaste de um sonho
Estou desiludida com o meu caminho
Neste meu delírio de outono


Évora, 13 de Abril de 2020
Maria da Conceição Saraiva Roxo Orvalho

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