A Menina das Sardas
Menina que nasceu com um olho verde e outro castanho
Foi Deus quem lhe deu contraste tamanho
Com o cabelo ruivo e rosto redondo, pontuado de pintinhas castanhas
Teu corpo pequeno, um pouco gordinho
Teu sorriso aberto, com bonitos dentes brancos
Viveste uma infância e juventude felizes
A tua viagem de comboio do norte até ao Alentejo durava 24h
Pois era enorme e lenta essa viagem
Sonhaste que a vida ia ser feliz
Mas falhaste, e não o foi por um triz
Não soubeste fazer a tua escolha
Ou foste demasiado crédula
Acreditaste e apostaste na pessoa errada
E por isso foste muito magoada
Tu e os teus filhos correram perigo de vida
Disso, não te conseguiste recuperar, ainda...
Vives a vida um dia de cada vez
Como se mais nada pudesses fazer
Já acabaram todos os porquês
Já pouco te resta para viver
Os sonhos ficaram lá bem atrás
Nas outras pessoas já pouco crês
A vida para ti foi uma madrasta
Daqui para a frente o que farás
Acredita mais naquilo que vês
Confiar cegamente já não és capaz
Pensa em ti com mais confiança
Olha para a vida ainda com alguma esperança.
Queridos Netos
Sinto saudades do vosso abraço
De deitarem a cabeça no meu regaço
De os ver sentados nas pernas dobradas
De olhitos brilhantes e caras espantadas
Enquanto vos conto histórias antigas
Que meu pai nos contava em criança
Quando nos sentávamos ao calor da lareira
Nas noites de inverno escuras e frias
Que para sempre tenho na lembrança
Ele, que nos contava cada história mais linda
Adorava a do " O Touro Azul", e a Princesa Coralina,
Que percorrem o mundo em busca da felicidade;
É uma história para qualquer idade
Depois era a "História do João Grilo"
De agora é que a porca torce o rabo"
Cujo herói era um carvoeiro
Que se dizia adivinho
Ao descobrir os três ladrões, do tesouro do rei,
E acabou casado com a princesa;
Depois eram os "Meninos de estrelinha na testa",
Afastados da sua mãe, pela avó malvada;
E que, para sempre vou recordar
Como os melhores tempos da minha infância
E do enorme amor do nosso pai!
Grupo Literário - Wise Winds - Ventos Sábios
DESAFIO REENTRÉ
TEXTO
O verão está a acabar
E os políticos andam atarefados
Para a reentré organizar
E ver os trabalhos dos partidos recomeçados
O primeiro a dar a sua partida
É o que se situa à direita
Quer voltar logo ao poder
A coligação já está feita
E sabem bem o que fazer
Para enganar o pobre povo
Fazendo as novas promessas
E isso não nos traz nada de novo
As intenções deles são mesmo essas
Depois vem o chamado da situação
Agora é a vez do partido Socialista
Quer continuar com a governação
Mas não está nada otimista
Porque para além dos partidos da oposição
Também conta com os comentários do Presidente
Que são cada vez mais agressivos
Dos demais Presidentes é muito diferente
Para o Primeiro-Ministro são muito nocivos
E nós estamos na corda bamba
Não queremos voltar a depender da direita
Que nos roubou toda a dignidade
Mas agora continua à espreita
Nós já sofremos muito com a sua maldade
Depois veem os outros, um de cada vez
Não trazem nada de novo
Falta-lhes muita sensatez
Só querem enganar o povo
Para Além do Horizonte
Não consigo enxergar
O que está por trás do monte
Só o posso imaginar
Aquilo que os meus olhos veem
É são campos a perder de vista
Com sobreiros e azinheiras
Com vinhas e as oliveiras
Que se estão a multiplicar
E muita terra a ocupar
E a paisagem alentejana
Está agora a mudar
Por detrás do horizonte
Já não há água na fonte
A paisagem está a secar
Há poucas vacas a pastar
Os porcos já não se veem
E os rebanhos de ovelhas
Para Além do Horizonte
Lembranças de menina
A linda Cidadelha
Das terras de Aguiar
A nada se assemelha
Por isso quero lá voltar
Será tanta a alegria
E grande o contentamento
Quando voltar um dia
Mas não é neste momento
Esta terra muita tradição
E tem o seu padroeiro
Que é Mártir São Sebastião
Ele festeja o seu dia
No dia 20 de janeiro
Há a linda festa de verão
Durante quatro dias
Com a procissão das velas
E a procissão do gado
Há uma missa cantada
Também majestosa procissão
Com as crianças vestidas de anjinhos
Com os santos nos seus andores
A percorrem as ruas da aldeia
Há noite há um arraial à maneira
Com a banda de música do Pontido
Com a de Cabeceiras, a tocar ao desafio
E todo um povo a dançar animado
No último dia há jogos populares
Com corridas de burros, ou de cavalos
Jogo do malhão
Corrida de sacos, de cântaros e da "canalha"
Era assim que chamavam às crianças
À tarde com bailarico
Com uma linda festa destas
Em casa é que eu não fico
A caminhante
Sou uma caminhante
Que caminha errante
Pelos campos fora
E a toda a hora
Não olhar para trás
Não sei como se faz
Por vales e picos
Por rios e prados
Por campos abertos
Percorri muitos caminhos
Muitos foram certos
E alguns errados
Seguir sempre em frente
Tirar da minha mente
Certos pensamentos
E acontecimentos
Que ficaram marcados
Dentro de todos nós
Quando estamos sós
A minha aldeia
Aquela casa velhinha
Era da minha avozinha
Que há muito nos deixou
A gente com saudades ficou
Foi para o céu que abalou
Vivia na linda aldeia
De Cidadelha de Aguiar
Para Além do Horizonte1
Para Além do Horizonte
Há sonhos por realizar
Beber a água da fonte
Quando estou a caminhar
Para matar a sede
E seguir o meu caminho
Ir para além do horizonte
E nunca me sentir sozinho
Correr atrás do meu sonho
Ainda por concretizar
Arranjar muita coragem
Para continuar a caminhar
Sentindo a fresca aragem
Para o meu corpo refrescar
Com o lindo pôr-do-sol
Que ilumina o horizonte
Onde canta o rouxinol
O astro tem a cor de fogo
Basta olhar lá para adiante
Para me faltar o fôlego
Onde está um arco-íris a brilhar
Tão longe, que não o consigo alcançar
Grupo Literário - Wise Winds-Ventos Sábios de Ruth Collaço
DESAFIO. Acróstico - Ventos Sábios
Venho fazer um poema
Em contexto bem diferente
Não sei bem o esquema
Tudo me deixa contente
O que quero escrever
Só eu sei o que dizer
Se não souber
Á tua porta vou bater
Boa vai ser a conversa
Iremos depois passear
Os nossos passos apressados
Serão então compensados
Aromas de Poesia: Abril/Maio/Junho
Em abril há águas mil
Mas também há liberdade
Conquistada no mês de abril
Pelos heróis da amizade
Maio é o mês do coração
Que bate dentro do peito
Para nossa salvação
Temos de ter respeito
Também é o mês de Maria
Mãe do nosso salvador
Que nos guarda noite e dia
Ele é Deus Nosso Senhor
Em junho começa o verão
Podemos ir para a praia
Vamos passear ao serão
Vestindo uma linda saia
Aromas de Poesia
Os aromas de poesia
Perfumam o coração
Trazem muita alegria
São a minha paixão
Ver as letras a saltar
Umas atrás das outras
Para assim continuar
As escrever estas letras
Numa folha de papel
Com aroma a primavera
Contar histórias de cordel
Que ouvia
Aromas de Poesia
Os aromas de poesia
São os aromas do dia
Daquela rosa encarnada
Que está a ser desfolhada
Da flor de laranjeira
Que trago na algibeira
De um pau de canela
Que pus dentro da panela
Esta raspa de limão
Cheira bem na minha mão
Que coloquei na aletria
E que comi com alegria
Cheira bem a hortelã
Que está dentro da sertã
Cheirava à luz da candeia
Antigamente na aldeia
Gosto do cheiro dos livros
Mesmo antes de serem lidos
Cheira a cal fresca na parede
E à relva ainda verde
Gosto do aroma do perfume
E da lenha a arder no lume...
Era assim a minha vida
Nasci na quinta do Dr. Gomes da Costa
Que era Presidente do Município
Foi assim o meu princípio
Ele e a sua amada esposa
Que era uma mulher muito bemposta
Foram os meus queridos padrinhos
Onde os meus pais eram caseiros
E onde nascemos três dos seus filhinhos
Depois, quando eu tinha três anos
Com a morte acidental de uma vaca
Eles acabaram todos por se zangar
E daquela quinta tivemos que abalar
Lá vamos nós a caminho da aldeia de Cidadelha,
onde a minha mãe tinha nascido
Isto ficou para sempre na minha lembrança
Embora eu fosse apenas uma criança
Ainda oiço o chiar do carro de bois
Primeiro no caminho de terra batida,
Depois, nas pedras da calçada
Como chiavam aquelas rodas
vergadas ao peso dos nossos parcos haveres
Que eram toda a nossa riqueza
Lá iam os meus tristes pais
Com os seis filhinhos, uns ao colo, outros pela mão
Desiludidos, depois de tanta dedicação!...
Saem assim desta triste maneira
Ficando sem trabalho e sem casa onde morar
Lá se foi a sua esperança
De dar aos seus queridos filhos
Um futuro melhor e mais risonho
Lá se foi o seu lindo sonho
Que viviam no seu dia a dia
Só ficou uma enorme escuridão
Para além da sua paixão
E do seu grande amor
Iam embora com muita dor!
A Liberdade
Eu queria liberdade
Pensei que era verdade
Que era esse o meu sonho
Mas a triste realidade
É que neste mundo medonho
Até já me esqueci desse sonho
Eu queria liberdade
De pensar pela minha cabeça
Mas para ter opinião
Mesmo que tenha razão
A mentira hoje ainda ganha
Há pessoas falsas que armam a patranha
Para que dela possam beneficiar
Nem que para isso vendam o corpo e a alma
Isso se alguma vez a tiveram
É verdade que às vezes as pessoas erram
Mas, quem não tem bom coração
Não se arrepende e não muda de opinião
Porque são pessoas falsas e sem valores
Usam e abusam dos grandes favores
Passam por cima dos seus opositores
Como se fossem uns tratores
Então vemo-las subir nas suas carreiras
Até ao topo cheias de peneiras!
Leonor
Minha neta Leonor
Ó minha linda princesa
És uma pré-adolescente
Ainda estás a crescer
Às vezes tens a certeza
Do que queres ir fazer
Para que país vai estudar
Gostas muito de cantar
E do saxofone tocar
Gosto muito de te ouvir
Pena que estás tão longe
Para te poder abraçar
Sempre que saudades sentir
Dos sonhos à realidade
Aquela menina de cabelos loiros e cacheados
Tinha o rosto pontuado de pequenas pintinhas
Nasceu com um olho verde e outro castanho
Que gostava de fazer lindos penteados
Tinha na vida um grande sonho
Era de continuar os seus estudos
Depois de terminar a primária
Fazer o exame de admissão
Para poder ir para o liceu
Mas isso não foi assim que aconteceu
Primeiro foi para a 5.ª e 6.ª classes
Que funcionava numa escola primária
No dia em passou no exame final
Quando estava de regresso a sua casa
Pela estrada que estava a ser alcatroada
Foi falar com o encarregado para pedir-lhe trabalho
Ela que era a 5.ª de 8 filhos
Cujos irmãos mais velhos todos já trabalhavam
E só estudaram até há 4.ª classe
Era forçoso que eu também trabalhasse
Porque eu já que já tinha feito 13 anos
E acabou assim o lindo sonho
De poder continuar os meus estudos
Os Dias
Os dias passam de vagar
E eu aqui sem ter aonde ir
Já não posso ir trabalhar
Desta situação só me apetece fugir
Vivo sem ter muito o que fazer
A não ser os dias contar
Gostava de contar histórias
Como o meu pai me contava em criança
Deixou-me esta linda lembrança
Dos nossos serões em família
Sentados ao calor da lareira
Nas noites frias de inverno
Às vezes a neve a caía
Puxada pelo vento norte
Que uivava do outro lado da janela
Daquela casa onde eu vivia
Mas não, os meus pequenos netinhos
Estão longe,
Vou fazer um exercício
para poder aprender
a escrever com os polegares
então tenho que treinar
uma e outra vez
vamos tentar, e fazer
uma e outra vez
um, dois e três
vamos fazer outra vez
ai esta falta de prática
ai esta minha dificuldade
por ter duas mãos esquerdas
vá lá vamos tentar
vamos lá a praticar
Dia do Abraço
O dia 22 de maio
É o dia do abraço
Daqui agora eu não saio
Nem carrego no regaço
Pão que se transforma em rosas
Para a fome aos pobres matar
Talvez tu também não possas
Passear na rua ao luar
Deixo-vos aqui o meu abraço
De uma forma virtual
Esqueço o meu cansaço
E duma forma espiritual
Aqui vos deixo o meu abraço
Para convosco festejar
Este dia tão especial
Que é o dia 22 de maio
Que é um dia sem igual
Poesia
A vida era um sonho prometido
Mas virou um enorme pesadelo
Todo este tempo já vivido
Faz com que eu queira esquecê-lo
Quem me dera que o pudesse fazer
Que isso ainda me fosse possível
Que pudesse continuar a crescer
Isso já não me está acessível
Pois estou cada vez mais perto de morrer
Há tanta coisa que quero ainda viver
No Outono Cai a Folha
No outono cai a folha,
Da árvore do meu quintal,
E do jardim da minha rua,
Cai a folha, não faz mal.
No outono cai a folha,
Que voa lá pelo céu,
Levada pela brisa fresca,
Como se fosse um véu.
No outono cai a folha,
Cuja luz já se perdeu,
Pois a cor verde que tinha
Essa já escureceu.
Quando surge a primavera,
Nasce de novo a folha,
Nasce a flor, depois o fruto,
e é uma alegria!
No outono cai a folha,
Da árvore do meu quintal,
E do jardim da minha rua,
Cai a folha, não faz mal!
Cansaço
Estou cansada
Desta minha vida triste
Em cada alvorada
Até que chegue a noite
Doe-me o corpo
E até a alma
A esperança não existe
Já nada me acalma
Em cada dia que passa
Estou muito mais triste
Todos os sonhos que tive
Já ficaram para trás
Pensamentos
Sou uma pessoa crédula, acredito nas promessas feitas, depois apanho cada deceção, que me faz duvidar da boa vontade de quem faz essas promessas.
Acho injusto favorecer umas pessoas, prejudicando outras,
em vez de chegar a consensos, onde os direitos de uns, prejudiquem gravemente os outros, e com isso, passe a fazer a vida num inferno a uma família que paga as suas contas em dia!
Estou farta de injustiças, de burocratas e burocracias!!!
Que só o que sabem dizer é que tem o papel, ou não tem o papel,
como se a vida das pessoas se resume a um papel! Burocracia!...
Verbo Haver
Há momentos inesquecíveis
Há horas que parecem dias
Há sonhos que são impossíveis
Há tempos que não te rias
Caminho de Ferro
Foi pelos trilhos
do caminho de ferro
Que eu viajei
Para o meu desterro
Vinda dos lados do norte
A correr atrás da minha sorte
Mas, eu me enganei
E muito chorei
Pela minha vida fora
E mesmo agora
Com o tempo a passar
Continuo a chorar
E a minha vida amaldiçoar
25 de Abril de 1974
Foi em Abril de 1974
Que o povo ganhou a liberdade
Eu era uma jovem mulher
Era tenra a minha idade
Tinha apenas dezassete anos
E nenhuma informação
Era quase uma ignorante
Da política na nossa nação
As poucas lembranças que tenho
Algumas são da minha aldeia
Foi ver um piloto, que era meu parente
Que pilotava uma pequena avioneta
Lançar panfletos lá de cima do céu
Fazendo um voo rasante
Para a campanha de uma eleição
Para eleger um novo presidente
Penso que era o Umberto Delgado
Que depois foi morto pela PIDE
Acabando assim o seu legado
Foi à monda nos campos do Alentejo
Que o dia 25 de Abril me foi encontrar
Logo de manhã muito cedinho
Ouvimos no pequeno rádio
Que o manajeiro trazia ao pé do ouvido
Começámos a ouvir cada comunicado
Que a junta militar mandava fazer
E então em vez de mondar com o sacho
Tínhamos de o fazer com a mão
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